Graça e Liberdade

No século XVI, um monge chamado Martinho Lutero se separou da Igreja e iniciou a Reforma Protestante. A peça-chave de sua teologia é conhecida como Sola Fides, ou salvação apenas pela fé. Aqueles que proferem esta doutrina afirmam que o homem é salvo pela graça e apenas através da fé. As boas obras, o cumprimento dos mandamentos são apenas consequências ou produtos da fé, mas não um requisito para alcançar a salvação. Ao longo deste capítulo, faremos uma breve revisão da doutrina católica e das heresias relacionadas ao tema da graça e da liberdade humana.

Resumo breve da doutrina católica:

Redenção, Justificação:

Nós católicos acreditamos que, depois do pecado original, o homem caiu do estado original de graça de Deus com o qual foi criado e que nesse estado não poderia se salvar sozinho. É aí que Jesus Cristo, através de seu sacrifício na cruz, realiza, em princípio e objetivamente, a reconciliação dos homens com Deus. Chamamos este ato maravilhoso de redenção.

A palavra redenção vem do latim redemptio, derivada por sua vez do hebraico kopher e do grego lytron, que no Antigo Testamento geralmente significa “preço de resgate”. No Novo Testamento, é o termo clássico que designa o “grande preço” que o Redentor pagou pela nossa libertação. A redenção pressupõe a elevação original do homem a um estado sobrenatural e sua queda através do pecado.

Mas, apesar de Cristo ter morrido por todos os homens, nem todos são salvos, dai a cada indivíduo deve “apropriar-se” desta redenção objetiva através da redenção subjetiva, que consiste em aplicar o fruto dessa redenção a cada indivíduo, e que é denominada justificação. Assim, quando o homem é justificado, o que dizemos é que ele é declarado e feito justo diante de Deus pela virtude do sacrifício de Cristo na cruz.

Graça e livre-arbítrio

Entende-se por graça o dom gratuito por parte de Deus e não merecido por parte do homem. Embora possamos falar de graça natural (a criação, os dons do orden natural como a saúde do corpo e do espírito) neste sentido amplo, aqui usaremos no sentido estrito para se referir a ela como um dom sobrenatural que Deus, por sua livre benevolência, concede a uma criatura racional para sua salvação eterna. O sacrifício de Cristo na cruz foi pura graça porque ele o fez sem qualquer obrigação, por amor e de maneira gratuita.

Também é graça a ajuda sobrenatural de Deus que impulsiona o homem a acreditar nele e, em seguida, a perseverar obrando o bem conforme à sua vontade.

Quando o homem se deixa mover pela graça e acredita, é justificado pela sua fé, mas também pode resistir e não acreditar. Essa escolha do homem só pode ser impulsionada por Deus, e sem ela não seria possível, embora ocorra com a cooperação da livre vontade humana.

Assim, Deus derrama sua graça sobre todos os homens, porque, como diz a Bíblia, ele quer que todos os homens sejam salvos e alcancem o pleno conhecimento da verdade (1 Timóteo 2,4). Portanto, a diferença entre o homem que decide acreditar e não acreditar não reside no fato de Deus não ter querido derramar sua graça sobre um ou outro, mas sim no fato de este homem, exercendo sua liberdade, ter aceitado ou rejeitado as graças que Deus lhe concedeu e que eram suficientes para sua salvação.

Santificação

Uma vez que o homem é justificado, não apenas lhe é imputada a justiça de Cristo, mas ele é realmente “feito justo” (regenerado em seu interior) e, portanto, é uma nova criatura. Aqui, o Espírito Santo começa a obra de renovação que não é meramente uma legalidade onde o homem é declarado justo, mas continua sendo pecador, como pensava Lutero, mas sim que o homem se torna realmente justo e chamamos isso de santificação.

Mesmo depois de ser justificado pela sua fé, o homem ainda tem liberdade de escolha e pode rejeitar a graça e fazê-la produzir frutos. Isso é o que é explicado na parábola da videira (João 15), ramos que permanecem unidos ao tronco (Cristo) produzem frutos, alguns mais, outros menos, outros podem até mesmo não produzi-los e ser cortados.

Essa cooperação da liberdade com a graça, que não é mais do que o exercício do livre arbítrio da pessoa movida pela graça, se traduz em uma boa “ação” e o cumprimento dos mandamentos é um requisito indispensável para a salvação. Portanto, o homem deve agir conforme a graça recebida, não apenas acreditando, mas agindo de acordo com ela.

Se a cooperação da vontade com a graça é necessária, é um erro dizer que a salvação ocorre sem intervenção humana (como pensavam os reformadores protestantes). Em vez disso, é correto dizer que a salvação é, em primeiro lugar, de Deus e a nossa é de maneira subordinada.

Também não podemos supor que, se o homem tem fé, ele certamente produzirá boas obras, porque estaríamos excluindo a possibilidade do pleno exercício do livre arbítrio. A experiência demonstra o que já diz a Escritura, no sentido de que o crente justificado pode pecar e cair, resistindo à graça concedida.

Daí a fé só (ou fé fiducial1 de Lutero) não salva, mas a fé que age por caridade. Devemos escolher acreditar e, em seguida, em cada momento escolher agir de acordo com a fé. Essa colaboração da vontade com a graça não deve ser entendida como uma espécie de pagamento onde a salvação é comprada ao estilo judaico.

Não será difícil, a partir dessa perspectiva, entender por que no julgamento todos seremos julgados pelas nossas obras, pois, por meio de nossas obras, ver-se-á se realmente respondemos positivamente à graça de Deus.

Desvios na doutrina da graça

Ao longo da história, não faltaram desvios na doutrina ortodoxa, seja sobreestimando ou desvalorizando tanto o papel da graça e/ou o livre arbítrio na obra da salvação.

Perspectiva de salvação de acordo com Pelágio

Pelágio era um monge romano-britânico que, aproximadamente, em 390 mudou-se para Roma e pregou que não era necessário a graça divina e a redenção de Cristo para a salvação, além de negar a existência do pecado original. Ele argumentava que a corrupção da natureza humana não é inerente, mas sim devido a maus exemplos e hábitos, e que as faculdades naturais dos seres humanos não foram prejudicadas pela queda de Adão. Ele afirmava que os seres humanos podem levar vidas de retidão moral e, por isso, merecem o céu por seus próprios méritos. Ele afirmava que a verdadeira graça está presente nos dons naturais da humanidade, incluindo livre arbítrio, razão e consciência. Ele também pregava o que chamava de graças externas, como a Lei de Moisés e o ensino e exemplo de Cristo, que estimulam a vontade “de fora”, mas não possuem um poder divino implícito. A fé e o dogma quase não eram importantes, pois a essência da religião era a ação moral. Sua crença na perfeição moral era influenciada pelo estoicismo2.

O estoicismo foi a filosofia mais influente no Império Romano durante o período anterior ao aumento do cristianismo quando este era pagão. Os estoicos, assim como os epicuristas, colocavam ênfase na ética considerada como o principal campo de conhecimento. Não é surpreendente que para Pelágio, influenciado por essas correntes filosóficas, a salvação fosse exclusivamente através das obras. O homem poderia ganhar o céu por seus próprios méritos, fazendo uso exclusivo de seu livre arbítrio, com o qual poderia sempre perseverar no bem.

Perspectiva de salvação segundo o protestantismo

Martinho Lutero se tornou uma figura controvertida quando se separou da Igreja Católica pregando que o homem se salva somente pela graça e através da fé fiducial ou Sola Fide. As boas obras para ele eram um produto natural da fé, e ele enfatizava que não eram necessárias para se salvar. Ele pregava que, como a salvação é “graça” que é recebida através da fé, já não era preciso mais nada, e o homem poderia ter uma segurança total de ser salvo. Para ele era incompatível dizer que, se a salvação era “graça”, as obras também eram necessárias. Em seus sermões apaixonados, ele pregava que poderia cometer adultério 24 vezes por dia, sem que isso afetasse em nada sua salvação, pois esta não dependia dele, pois Cristo já a havia ganhado para ele, e assim como ele não fez nada para recebê-la (gratuitamente), uma vez salvo, ele não poderia fazer nada para perdê-la. Lutero argumentava que sua posição estava sustentada na Escritura, em Romanos 3,28 (“Pois estou convencido de que o homem obtém a salvação pela fé e não pelo cumprimento da lei”) e Romanos 4,3 (“Abraão acreditou em Deus e isso lhe foi contado como justiça para obter a salvação”).

A partir daí, foi basicamente a posição oficial de todas as igrejas protestantes evangélicas surgidas da Reforma, e é até mesmo a posição atual de boa maioria delas atualmente. Assim, encontramos que evangélicos e fundamentalistas nos garantem ter uma absoluta segurança de serem salvos. Concluem da Bíblia que Cristo prometeu que o céu é deles em troca de um ato muito simples. Tudo o que precisam fazer é “aceitar a Cristo como seu salvador pessoal” e o assunto está resolvido. Provavelmente eles viverão vidas exemplares depois, mas viver bem não é crucial para eles, porque isso não afeta sua salvação. Não importa o que aconteça depois, não importa quanto pecaminosamente eles vivam o resto de suas vidas, sua salvação está garantida. Talvez o Espírito Santo os castigue nesta vida por seus pecados, mas de jeito nenhum podem perder sua salvação, porque ela não depende do valor intrínseco de suas almas ou dos efeitos dos pecados cometidos.

Kenneth E. Hagin, um famoso tele-evangelista, afirma que a segurança desta salvação vem através de ser “renascido”: “Se vocês não nascerem de novo, não entrarão no Reino de Deus” (João 3,3). Em seu pequeno livro, The New Birth (O Novo Nascimento), Hagin afirma:

“O novo nascimento é uma necessidade para ser salvo. Através do novo nascimento você entra em uma relação correta com Deus.”

Kenneth afirma que o novo nascimento é apenas produto de aceitar a Cristo como salvador pessoal, depois deste ato de vontade e fé, tudo já está feito e você já está salvo para sempre. O resto, quem não tenha aceitado a Cristo (incluindo aqueles que nunca ouviram falar dele), não importa quantas boas obras tenham feito, quanto corretamente tenham vivido, quanto tenham obedecido à lei natural de sua consciência, irão para o inferno, para o fogo eterno, para a condenação eterna.

Outras perspectivas da salvação segundo outras comunidades eclesiásticas protestantes

Apesar de após a Reforma Protestante as igrejas Evangélicas ensinavam que a salvação era obtida exclusivamente através da fé e depois disso não poderia ser perdida, a paz não durou muito tempo. Logo surgiram críticos dessas doutrinas dentro dessas próprias igrejas, que sustentavam que era possível perder a salvação. Esse movimento cresceu, ganhou força e até hoje continua o debate entre igrejas evangélicas.

No século XVII, Jacobo Armino pregou que a livre vontade humana pode existir sem limitar o poder de Deus ou contradizer a Bíblia. Ele se opunha às doutrinas calvinistas que enfatizavam a predestinação.

Arminio afirmava que a predestinação era bíblica e verdadeira, ou seja, que Deus havia destinado algumas pessoas para o céu e outras para o inferno, como indicado pela referência de Jesus, “ovelhas e cabritos”. Mas ele se concentrava no amor de Deus mais do que em seu poder na hora de escolher, o processo pelo qual Deus escolheu aqueles destinados ao paraíso.

Após a morte de Arminio, um grupo de ministros que simpatizavam com suas opiniões desenvolveram uma teologia sistemática e racional baseada em suas ensinanças. Em sua declaração publicada em 1610, os arminianos afirmavam que a escolha estava condicionada pela fé, que a graça poderia ser rejeitada, que a obra de Cristo estava pensada para todas as pessoas e que era possível que os crentes caíssem em desgraça.

No Sínodo de Dort, realizado entre 1618 e 1619, os calvinistas prevaleceram sobre o grupo de arminianos e condenaram aqueles que discordavam de sua posição. Eles declararam que a obra de Cristo era destinada apenas a aqueles escolhidos para a salvação, que as pessoas que acreditavam não podiam perder a graça e que a escolha de Deus não dependia de qualquer condição. Os evangélicos arminianos então foram completamente proibidos na Holanda pelos outros evangélicos calvinistas até 1630 e, desde então, sem reservas, até 1795. No entanto, a tradição arminiana continuou nos Países Baixos no final do século XX.

O teólogo britânico John Wesley estudou e afirmou a obra de Arminio em seu movimento metodista no século XVIII na Inglaterra. Para o público, o arminianismo é resumido na ideia de que não existe predestinação e que as pessoas são livres para seguir ou rejeitar o Evangelho.

A partir de então, muitas igrejas evangélicas, diferentemente das anteriores, afirmam que a salvação não é perdida, mas sim “rejeitada”, o que, na essência, é uma forma elegante de dar o braço a torcer, pois, no final das contas, é a mesma coisa. Alguém que estava caminhando rumo ao céu ontem, pode estar rumo ao inferno hoje por não agir conforme a vontade de Deus.

Fundamento Bíblico:

O homem não pode salvar a si mesmo.

A partir de aqui, muitas igrejas evangélicas ao contrário das anteriores, afirmam que a salvação não é perdida, mas “rejeitada”, o que, na essência, é uma forma elegante de ceder, já que no final das contas, é a mesma coisa. Alguém que estava caminhando para o céu ontem, pode estar rumando para o inferno hoje por não agir conforme a vontade de Deus.

Há numerosos textos bíblicos que fazem referência ao pecado original e à incapacidade do homem em estado caído de se salvar:

“De fato, assim como pela desobediência de um único homem, todos foram constituídos pecadores, assim também pela obediência de um único todos serão constituídos justos.” (Romanos 5,19)

“Não entre em julgamento com seu servo, pois não há justiça diante de você para nenhum vivente.” (Salmo 143,2)

“Lembre-se que nenhum homem pode redimir a si próprio ou pagar a Deus pelo seu resgate.” (Salmo 49,8)

“Veja que nas culpas eu já nasci, pecador me concebeu minha mãe.” (Salmo 51,7)

Estes textos eram apresentados pelos Pais da Igreja aos pelagianos para provar-lhes que o homem não pode fazer nada por seus próprios méritos sem a ajuda da graça.

“Eu sou a videira, vocês são os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois longe de mim, vocês não podem fazer nada.” (João 15,5)

Salvação é Graça

Também há muitos textos na Escritura que enfatizam que a salvação não é uma graça que recebemos em troca de algo, mas é o resultado do amor de Deus:

“Ele nos salvou e nos chamou com um chamado santo, não por nossas obras, mas por sua própria determinação e graça, que nos foi dada desde toda a eternidade, em Cristo Jesus.” (2 Timóteo 1,9)

“Ele nos salvou, não por obras de justiça que tivéssemos feito, mas de acordo com sua misericórdia, através do batismo da regeneração e renovação pelo Espírito Santo.” (Tito 3,5)

“Estando mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo – pela graça vocês foram salvos – e com ele nos ressuscitou e nos sentou nos céus em Cristo Jesus, para mostrar, nos séculos futuros, a riqueza incalculável de sua graça, por sua bondade para conosco em Cristo Jesus. Pois vocês foram salvos pela graça, através da fé, e isso não vem de vocês, é dom de Deus.” (Efésios 2,5-8)

“Isto é agradável a Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens sejam salvos e venham ao conhecimento da verdade.” (1 Timóteo 2,3-4)

“Pois a graça salvadora de Deus foi revelada para todos os homens, e, a bondade de Deus, nosso Salvador e seu amor pelos homens.” (Tito 2,11; 3,4)

Somos justificados pela Fé

Vocês foram salvos pela graça, através da fé, e isso não vem de vocês, é dom de Deus; e também não vem das obras, para que ninguém se orgulhe.” (Efésios 2,8)

“Portanto, tendo recebido a justificação pela fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.” (Romanos 5,1)

“O justo viverá pela fé.” (Romanos 1,17)

“Pois, se você confessar com sua boca que Jesus é Senhor e acreditar em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo. Pois é com o coração que se crê para obter justiça, e é com a boca que se confessa para obter salvação. Pois a Escritura diz: Todo aquele que crê nele não será envergonhado. Não há distinção entre judeu e grego, pois o mesmo é o Senhor de todos e rico para todos os que o invocam. Pois todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (Romanos 10,9-13)

“Em verdade, em verdade lhes digo: quem escuta a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem vida eterna e não entrará em julgamento, mas passou da morte para a vida.” (João 5,24)

“Eles responderam: ‘Creia no Senhor Jesus e você e sua casa serão salvos’.” (Atos 16,31)

“Eu escrevi essas coisas para vocês que acreditam no nome do Filho de Deus, para que saibam que possuem a vida eterna.” (1 João 5,13)

São necessárias boas obras

Mas assim como é um erro negar ou diminuir o papel fundamental da graça, tal como faz o pelagianismo, também é um erro negar a cooperação da liberdade humana na obra da salvação. Esse foi o erro fundamental de Lutero, que em sua obra “De servo arbitrio” coloca o homem como um ser puramente passivo e receptor da graça.

Uma exegese ruim é aquela que fundamenta sua doutrina somente em alguns textos ignorando outros. Aqui estão alguns textos bíblicos que se opõem de maneira mais frontal à doutrina de Lutero:

Não todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome e, em teu nome, expulsamos demônios e, em teu nome, realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi abertamente: ‘Nunca vos conheci; afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.’ Portanto, todo aquele que ouvir essas minhas palavras e as praticar será semelhante ao homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha: caiu a chuva, vieram as torrentes, os ventos sopraram e bateram contra aquela casa, mas ela não caiu porque estava fundamentada sobre a rocha. E todo aquele que ouvir essas minhas palavras e não as praticar será semelhante ao homem insensato que construiu sua casa sobre a areia: caiu a chuva, vieram as torrentes, os ventos sopraram e a atingiram, e ela caiu, e foi grande a sua destruição.” (Mateus 7,21-27)

Textos como este mostram que não basta a simples profissão de fé, é preciso também fazer a vontade de Deus. Observe que Jesus estava falando precisamente sobre aqueles que professavam com suas bocas sua fé nele (fé fiducial) e o reconheciam como Senhor. Entre esses, Ele diz que “não todos entrarão”, se referindo a aqueles que “não fizeram a vontade do Pai”.

É importante notar que muitos dos que são reprovados neste texto chegaram a profetizar em nome de Jesus, expulsaram demônios e fizeram milagres. A essas pessoas, Jesus não diz que elas mentem, efetivamente fizeram todas essas obras milagrosas em seu nome3, mas não se salvaram porque não agiram de acordo com a vontade de Deus cumprindo os mandamentos e por isso ele responde “Eu nunca os conheci; afastem-se de mim, vocês que praticam a iniquidade.”

A lição que devemos aprender é que o verdadeiro crente é aquele que “coloca em prática” a Palavra.

Coloquem em prática a Palavra e não se contentem apenas em ouvir, enganando-se a si mesmos. Porque se alguém se contenta em ouvir a Palavra sem colocá-la em prática, é como aquele que olha para o seu rosto em um espelho: ele olha para si mesmo, mas ao sair esquece como é.” (Tiago 1,22-24)

“Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado.” (Tiago 4,17)

É comum que os protestantes não entendam bem a posição católica. Eles geralmente veem a necessidade de boas obras como uma forma de “comprar” a salvação (o que é pelagianismo). No Evangelho, encontramos uma parábola que pode ajudá-los a entender bem o que acreditamos.

“O Reino dos Céus é semelhante a um rei que celebrou o banquete de bodas de seu filho. Ele enviou seus servos para convidar os convidados para a festa, mas eles não quiseram vir… Então ele diz aos seus servos: ‘A festa está preparada, mas os convidados não são dignos. Vão, então, às encruzilhadas e convidem todos que encontrarem para a festa.’ Os servos saíram para as estradas, reuniram todos que encontraram, bons e maus, e a sala de banquete se encheu de convidados. Entrou o rei para ver os convidados e, ao perceber que havia ali alguém sem traje de festa, disse: ‘Amigo, como você entrou aqui sem um traje de festa?’ Ele ficou em silêncio. Então o rei disse aos servos: ‘Amarrem-no de pés e mãos e o joguem nas trevas de fora; ali haverá choro e ranger de dentes.’ Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos.” (Mateus 22,2-3.8-14)

A parábola se refere às bodas do Cordeiro (Jesus e sua Igreja). Aqueles que inicialmente foram convidados e não quiseram vir representam os judeus que rejeitaram acreditar no Messias, então o rei mandou procurar pelas estradas todos que quisessem comparecer (estes representam os gentios e pagãos).

De todos os convidados, muitos aceitaram o convite e foram para a festa de casamento. Estes que aceitaram o convite representam aqueles que professaram sua fé em Jesus e o aceitaram como Senhor. No entanto, entre todos os convidados, foi encontrado um sem usar o “vestido de casamento”. Se o convidado não o usava não era porque fosse pobre ou não tivesse como comprá-lo, já que o vestido de casamento era fornecido pelo celebrante. Ele fica em silêncio porque não tinha razão para não usá-lo (não quis usá-lo).

O vestido de casamento mencionado na parábola simboliza a caridade, a vida que todo cristão deve levar depois de sua conversão. Uma vida que deve ser acompanhada de obediência aos mandamentos e uma fé que age por meio da caridade. Esta ideia é reiterada em todo o Evangelho, e é por isso que quando o jovem rico pergunta a Jesus o que fazer para ganhar a vida eterna, Jesus responde que ele deve guardar os mandamentos.

“Então chegou-se a ele alguém e perguntou: ‘Mestre, o que devo fazer para ganhar a vida eterna?’ Jesus respondeu: ‘Por que me perguntas sobre o que é bom? Um só é o bom. Se você quer entrar na vida, guarde os mandamentos.’” (Mateus 19,16-17)

Alguns textos onde se enfatiza que, além da fé, é necessário obediência a Deus e caridade:

“E, tendo chegado à perfeição, ele se tornou autor de eterna salvação para todos aqueles que obedecem a ele.” (Hebreus 5,9)

“…mesmo que eu tivesse fé suficiente para mover montanhas, se não tivesse amor, eu não seria nada.” (1 Corintios 13,2)

“Agora permanecem a fé, a esperança e o amor, esses três, mas o maior deles é o amor.” (1 Corintios 13,13)

De todos esses passagens, talvez aquele que se opõe mais diretamente à doutrina de Lutero seja o da epístola de Tiago:

O que adianta, irmãos meus, que alguém diga que tem fé, se não tem obras? Será que a fé pode salvá-lo? Se um irmão ou irmã estiver nu e precisando de alimento diário, e alguém lhe disser: ‘Vai em paz, aquece-te e sacia-te’, mas não lhe der o que é necessário para o corpo, de que adianta? Assim também a fé, se não tiver obras, está morta por si mesma. Mas alguém poderá dizer: ‘Você tem fé e eu tenho obras. Mostre-me sua fé sem as suas obras, e eu mostrarei minha fé por minhas obras’. Você acredita que há apenas um Deus? Isso é bom. Até os demônios acreditam e tremem. Você quer saber, ó insensato, que a fé sem obras é inútil? Abraão, nosso pai, foi justificado pela fé, quando ofereceu Isaque, seu filho, sobre o altar? Você vê como a fé cooperou com as suas obras e, pela fé, as obras se completaram? E assim, a Escritura foi cumprida quando diz: ‘Abraão acreditou em Deus, e isso lhe foi contado como justiça’ E foi chamado amigo de Deus.Vocês já podem ver como um homem é justificado pelas obras e não apenas pela fé. Da mesma forma, Rajab, a prostituta, também foi justificada pelas obras ao hospedar os mensageiros e fazê-los sair por outro caminho? Porque assim como o corpo sem o espírito está morto, a fé sem obras também está morta.” (Tiago 2,14-26)

O texto anterior é tão claro que levou Lutero a chamar a epístola de Tiago de “epístola de palha.”

Harmonizando a Escritura

Assim como há muitos textos bíblicos que enfatizam a necessidade da fé, também há outros que enfatizam a necessidade das obras. Sem uma exegese adequada, pode-se encontrar aparentes contradições entre esses textos. Um exemplo disso é entre esses dois textos:

“Porque acreditamos que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei.” (Romanos 3,28)

“Vocês já podem ver como um homem é justificado pelas obras e não apenas pela fé.” (Tiago 2,24)

Passagens como Romanos 3,28 na Escritura são muitas, nas cartas aos Romanos e aos Gálatas há muitas menções de que a salvação do homem é pela fé “sem as obras da lei”, enquanto Tiago diz que o homem se justifica pelas obras e não pela fé sozinha. A Igreja sempre nos ensinou que, para entender a Escritura, devemos estudar o contexto, pois através dele podemos harmonizar os passagens e entender o que cada um quer nos dizer. Em Romanos 3,28, não é usada a expressão obras, mas “obras da lei”, do grego “ergon nomou”, e que significa literalmente “obras da Torah”. Este termo é familiar nas pregações modernas como “obras da lei”; no entanto, seria mais apropriadamente traduzido no contexto como “obras da Torah”, porque a lei (nomos) de que São Paulo fala em toda parte em Romanos e Gálatas é a “Lei Mosaica”, que não é composta apenas por leis morais ou mandamentos, mas por leis cerimoniais e proibições alimentares, que é pactuada pela circuncisão.

É nesse contexto que São Paulo tenta fazer com que os cristãos entendam a não necessidade do cumprimento da Lei Mosaica. Se analisarmos o contexto dessas passagens, veremos que Paulo está enfrentando ali um conflito judaico, que foi o primeiro problema sério que a Igreja primitiva4 enfrentou. Esse conflito começa quando um grupo de judeus apegados à antiga lei insiste que os gentios devem ser circuncidados se quiserem se salvar. É aqui que o Apóstolo enfatiza várias vezes que os cristãos não se justificam “pela obra da lei”.

“Alguns de Judeia desceram e ensinaram aos irmãos: ‘Se vocês não se circuncidarem segundo a tradição mosaica, vocês não podem ser salvos.’” (Atos 15,1)

São Paulo responde:

“Pois nada importa se a pessoa é circuncidada ou incircuncidada, o que importa é ser uma nova criação.” (Gálatas 6,15)

“Então, qual é a vantagem do judeu? Qual é a utilidade da circuncisão?” (Romanos 3,1)

Lutero malinterpretou esses textos e não entendeu que quando se fala das obras da Lei, não se estava se referindo às obras decorrentes da fé, de que o Apóstolo Tiago fala. Essas obras também não compram a salvação, mas são necessárias para serem salvos, incluindo o cumprimento dos mandamentos.

Entender a salvação desta forma leva à doutrina protestante contraditória que acaba ignorando ou colocando em segundo plano todos os textos bíblicos que enfatizam o papel da liberdade humana na obra da salvação.

“Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com seus anjos, e então pagará a cada um de acordo com suas ações.” (Mateus 16,27)

“Porque todos nós precisamos ser revelados diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba de acordo com o que fez durante sua vida mortal, o bem ou o mal.” (2 Coríntios 5,10)

“E vi os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono; alguns livros foram abertos, então outro livro foi aberto, que é o livro da vida; e os mortos foram julgados de acordo com o que estava escrito nos livros, de acordo com suas obras. E o mar devolveu os mortos que guardava, a Morte e o Hades devolveram os mortos que guardavam, e cada um foi julgado de acordo com suas obras. A Morte e o Hades foram lançados no lago de fogo – este lago de fogo é a segunda morte – e aqueles que não estavam inscritos no livro da vida foram lançados no lago de fogo.” (Apocalipse 20,12)

“Quando o Filho do homem vier em sua glória, acompanhado de todos os seus anjos, então sentar-se-á no trono de sua glória. Todas as nações serão reunidas diante dele, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. Colocará as ovelhas à sua direita, e os cabritos à sua esquerda. Então o rei dirá àqueles à sua direita: ‘Venham, abençoados por meu Pai, recebam a herança do reino preparado para vocês desde a criação do mundo. Porque eu estive com fome, e vocês me deram de comer; eu estive com sede, e vocês me deram de beber; eu era estrangeiro, e vocês me acolheram; eu estava nu, e vocês me vestiram; eu estava doente, e vocês me visitaram; eu estava na prisão, e vocês vieram me visitar.’ Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando é que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando é que te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou nu e te vestimos? Quando é que te vimos doente ou na prisão e fomos te visitar?’ E o rei lhes dirá: ‘Em verdade eu lhes digo que tudo o que vocês fizeram para um desses meus irmãos mais pequenos, vocês fizeram para mim’. Então ele também dirá para os de sua esquerda: ‘Afastem-se de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o Diabo e seus anjos. Porque tive fome e vocês não me deram de comer, tive sede e vocês não me deram de beber, era estrangeiro e vocês não me acolheram, estava nu e vocês não me vestiram, estava doente e preso e vocês não me visitaram’. Então eles também dirão: ‘Senhor, quando te vimos com fome ou sede ou estrangeiro ou nu ou doente ou preso e não te demos assistência?’ Então ele lhes responderá: ‘Em verdade eu lhes digo que tudo o que vocês deixaram de fazer por um desses mais pequenos, vocês também deixaram de fazer por mim’. E eles irão para o castigo eterno, enquanto os justos para a vida eterna.” (Mateus 25,31-46)

O critério que Cristo utilizará para separar as “ovelhas” dos “cabritos”, para determinar se somos salvos ou condenados, será baseado nas obras de misericórdia que tivermos feito, as quais também são frutos da graça. É por isso que São Agostinho explica que quando Deus coroa nossos méritos, ele está coroando seus dons.

Pela sua frutos vocês os reconhecerão. Vocês colhem uvas de espinhos ou figos de abrolhos? Assim, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore má dá frutos ruins.” (Mateus 7,16-17)

Salvo sempre salvo?

Outra doutrina pregada por muitas igrejas evangélicas hoje é que a salvação não pode ser perdida. Defensores dessa posição citam muitos textos bíblicos que podem ser usados ​​para mostrar que o crente justificado está em estado de graça, mas não para mostrar que ele não pode cair desse estado. A seguir, alguns desses textos serão analisados:

“Em verdade, em verdade eu lhes digo: aquele que escuta a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra no julgamento, mas passou da morte para a vida.” (João 5,24)

Os protestantes deduzem que quem “crede” tem “vida eterna” pelo fato de ser eterna estar assegurada. No entanto, embora a expressão “vida eterna” faça referência a um estado de graça que levará à salvação (em caso de morrer em graça de Deus), isso não significa que a pessoa não possa cair desse estado por meio do pecado. Um exemplo disso temos no seguinte texto bíblico:

“Todo aquele que odeia o seu irmão é um assassino; e vocês sabem que nenhum assassino tem vida eterna permanente em si.” (1 João 3,15)

No trecho anterior, João está falando de alguém que tinha vida eterna, mas começou a guardar ressentimentos contra o seu irmão. Uma vez que já cedeu a guardar o ódio em seu coração, essa vida eterna deixou de ser “permanente”. É por isso que a seguir nos exorta a permanecermos na vida.

“Se alguém que possui bens da terra, vê seu irmão sofrer necessidade e fecha seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhos meus, não amemos de palavra ou de boca, mas com obras e de acordo com a verdade.” (1 João 3,17-18)

Textos como este mostram que estar no estado de graça não significa que não podemos cair dele. Na parábola da videira, os crentes são representados metaforicamente como ramos unidos ao tronco da árvore (Cristo). A graça é representada pela seiva que flui para os ramos (nós) e sem a qual não podemos dar frutos. Observe que os ramos que deixam de dar frutos são cortados.

Permaneçam em mim, assim como eu permaneço em vocês. Assim como o ramo não pode dar frutos por si só, se não permanecer na videira, assim também vocês, se não permanecerem em mim. Eu sou a videira, vocês os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque separados de mim, vocês não podem fazer nada.” (João 14,4-6)

“Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo em mim que não dá fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto, ele o limpa, para que dê ainda mais fruto.” (João 15,1-2)

Se alguém não permanecer em mim, é lançado fora como um ramo e seca; então são colhidos, jogados no fogo e queimados.” (João 15,6)

Mais tarde, ao finalizar a parábola, Jesus explica como permanecer Nele:

Se vocês guardarem meus mandamentos, permanecerão em meu amor, assim como eu guardei os mandamentos de meu Pai e permaneço em seu amor.” (João 15,10)

Outra passagem amplamente utilizada pelos protestantes para afirmar que a salvação não pode ser perdida é a seguinte:

“Minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes vida eterna e jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que me deu as ovelhas, é maior do que todos e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos um.” (João 10,27-30)

Este texto pode ser utilizado para provar que ninguém pode nos separar do amor de Deus, mas não para provar que nós mesmos não podemos fazê-lo.

“Ponho hoje como testemunhas contra vocês o céu e a terra: coloco diante de você a vida ou a morte, a bênção ou a maldição. Escolha a vida, para que você viva, você e sua descendência, amando o Senhor, o seu Deus, ouvindo a sua voz e vivendo unido a ele, pois nisso está sua vida.” (Deuteronômio 3,15)

Há muitos textos na Escritura que enfatizam a necessidade de perseverar até o fim no bem para se salvar.

“E à medida que a iniquidade cresce cada vez mais, a caridade da maioria esfriará. Mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo.” (Mateus 24,12-13)

“…Seja fiel até a morte e eu lhe darei a coroa da vida.” (Apocalipse 2,10)

“E você, filho do homem, diga aos filhos do seu povo: A justiça do justo não o salvará no dia de sua perversão, nem a maldade do malvado o fará sucumbir no dia em que se afaste de sua maldade. Mas também o justo não viverá pela sua justiça no dia em que pecar. Se eu disser ao justo: ‘Você viverá’, mas ele, confiando em sua justiça, comete a injustiça, não haverá lembrança de toda a sua justiça, mas morrerá por causa da injustiça que cometeu. E se eu disser ao malvado: ‘Você morrerá’, e ele se afasta do pecado e pratica o direito e a justiça, se devolver o empréstimo, restitui o que roubou, observa os preceitos que dão vida e deixa de cometer injustiça, ele certamente viverá, não morrerá. Nenhum dos pecados que cometeu será lembrado mais: ele observou o direito e a justiça; certamente viverá. Os filhos do seu povo dizem: ‘Não é justo o procedimento do Senhor.’ O procedimento deles é o que não é justo. Quando o justo se afasta de sua justiça para cometer injustiça, ele morre por isso. E quando o malvado se afasta de sua maldade e observa o direito e a justiça, ele vive por isso. E vocês dizem: ‘Não é justo o procedimento do Senhor.’ Eu os julgarei, cada um de acordo com sua conduta, casa de Israel.” (Ezequiel 33,17-20)

E da mesma forma, há textos onde vemos que podemos perder a salvação:

“Os atletas se privam de muitas coisas. Eles o fazem para receber uma coroa corruptível, mas nós competimos para receber uma coroa incorruptível. Portanto, eu corro, mas não como alguém que não sabe aonde vai. Eu luto, mas não como alguém que bate no ar. Antes, eu castigo o meu corpo e o faço escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não seja desqualificado.” (1 Coríntios 9,25-27)

“Portanto, meus queridos, da mesma forma que sempre obedecestes, não somente quando eu estava presente, mas muito mais agora que estou ausente, trabalhai com temor e tremor pela vossa salvação.” (Filipenses 2,12)

Como sairemos absolvidos nós se negligenciarmos tão grande salvação? A qual começou a ser anunciada pelo Senhor, e nos foi confirmada depois por aqueles que a ouviram.” (Hebreus 2,3)

Em Romanos 11, Paulo exorta os crentes a não se vangloriarem. Muitos dos novos cristãos devem ter se exaltado e desprezado os judeus. Observe como a comparação é feita do povo de Deus a um terreno onde somos plantados os crentes. Os judeus são as ‘ramas naturais’ e nós somos o ‘olivo selvagem’. A lição de todo o texto é que nós também podemos ser ‘cortados’.

“E se algumas ramas foram cortadas, enquanto você – oliveira silvestre – foi injetado entre elas, feito participante com elas da raiz e do suco da oliveira. Mas você dirá: As ramas foram cortadas para que eu fosse injetado. Muito bem! Por sua incredulidade foram cortadas, enquanto você, pela fé, se mantém. Não se ensoberbeça!; mais sim, tema. Se Deus não perdoou as ramas naturais, não seja que também você não seja perdoado. Portanto, considere a bondade e a severidade de Deus: severidade com aqueles que caíram, bondade com você, se você se mantiver na bondade; se não, também você será cortado.” (Romanos 11,17.19-22)

Notas de rodapé

  1. A fé fiducial se refere a confiança única de que a divina misericórdia remitirá os pecados pelos méritos de Jesus Cristo (de fé). O Concílio de Trento rejeitou as teses protestantes, com as seguintes palavras: “Se alguém disser que a fé justificante não é outra coisa senão a confiança e que essa confiança é o único com que nos justificamos, seja anátema” (DS 1562).
  2. O estoicismo derivava de uma escola de filosofia ocidental, fundada na antiga Grécia. A filosofia estóica desenvolveu-se a partir da dos cínicos, cujo fundador grego, Antístenes, foi discípulo de Sócrates.
  3. Em teologia, são conhecidas como graças gratuitamente dadas, que, ao contrário das graças gratuitamente fazendas (ou graça de santificação) são concedidas para a salvação das pessoas, mas são independentes da condição moral daquele que as recebe.
  4. Narrado no capítulo 15 dos Atos dos Apóstolos.
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